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COM UMA MANSÃO ABRIGANDO MÓVEIS DE LUXO E ROUPAS VALIOSAS, STEVENSON ABRE SUA CASA PARA FALARMOS SOBRE MODA, ARTE E HISTÓRIA.


A primeira vez que vi Stevenson provavelmente foi em algum blog ou em alguma revista, sempre estava em tudo, era uma das únicas negras presente no campo. Fiquei apaixonada, não foi coincidência que ela tenha sido a primeira fashionista a estrear o #WISHOESLIST. Com um histórico lindo de parcerias com nosso blog, participou das duas edições do Conscious Dolls Night, além de ser uma das presenças mais esperadas na segunda edição do evento, onde elaborou um discurso forte e emocionante sobre o racismo e a influência das mulheres negras no mundo da arte, colocando na mesa a luta que ela e outras mulheres enfrentam.

Conhecendo bem Stevenson, eu sabia que ela amava roupas clássicas e elegantes, resolvi, então, usar uma camisa branca de algodão, além de uma Lady Dior, a It Bag favorita da anfitriã. Sua sala de visitas é a definição de elegância! A parede é pintada de azul Tiffany, além do "roda parede" de gesso branco junto a uma lareira extremamente chique. Logo que entrei ela me disse para ficar a vontade e assentar-me no sofá, um Hermès laranja com detalhes em ouro, que substituía a função da lareira e esquentava aquela sala com sua cor estonteante e forte. Como se não fosse o bastante, preparou um chá, servido em um conjunto de bule e xícaras de porcelanas azuis, tão delicadas que temi quebrá-las.



Para começar nossa conversa, aproveitei a admiração que senti pela decoração da casa e elogiei a incrível mansão, perguntando se o processo decorativo acompanhava as estações ou não, e como era a escolha de toda a ornamentação feita por ela.
"Eu adoro fazer interiores/decoração de casa [...] Eu gosto de decorar minhas suítes, é preciso muito planejamento para fazê-lo, mas o resultado final é sempre gratificante e recompensador. Às vezes, vou esboçar, mas sempre passo horas em imagens do Google e em Pinterst para fazer a ideia fluir. Mais recentemente, descobri que o Instagram é uma ótima fonte de inspiração ou assisto a vídeos da Architectural Digest no YouTube. Quanto às minhas muitas salas decoradas, a idéia-chave é criar um espaço caseiro, mas elegante, e sempre tento me imaginar vivendo nessas salas virtuais." 
E durante a conversa ela cita seus cômodos de "tributo" aos grandes estilistas que, a propósito, já foram revelados nas fotografias postadas por ela ou compartilhada por outros. Esses cômodos dedicados aos estilistas guardam roupas que valem uma fortuna, como por exemplo os figurinos criados por Hubert de Givenchy usados por Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany's.
Enquanto estávamos na suíte rodeadas de bolsas Dior perguntei: "Essa suíte tem muitas bolsas da Dior. Você é um grande fã de roupas Dior por qual motivo?" e sempre com as respostas diretas e na ponta da língua, respondeu:
"Absolutamente, eu me considero um entusiasta da Dior. Eu aprecio como a marca cresceu e se transformou para onde está hoje. Sou um amante da história e não sou estranho quando se trata de moda, mas olhando para ela de um aspecto histórico. Lembro-me de como fiquei emocionado quando assisti ao documentário de 2014, Dior e Eu, apresentando o icônico designer Raf Simons ao assumir o cargo de novo diretor de criação. Assistindo aquela última cena quando ele estreou sua coleção de alta costura, parecia que estava com ele em sua jornada e então eu me lembro de me sentir emocionada assistindo as modelos enfeitarem a passarela com essas criações ornamentadas e detalhadas. Daquele momento em diante, tive a missão de pesquisar mais sobre a Dior e passar horas assistindo a coleções no Youtube quando o designer John Galliano estava no comando nos anos 90 e início dos anos 2000. Depois, encontrei mais imagens de arquivo datadas da década de 1950, quando o lendário designer Christian Dior criou um dos looks mais icônicos da moda, chamado "New Look" e o quanto isso impactou a moda naquela época. Daquele momento em diante, comecei a ler textos, livros e memórias sobre Christian Dior relacionados à moda universitária, toda essa pesquisa que fiz realmente criou um amor pela Dior, mas uma nova apreciação pela moda."
Quando Stevenson me disse tudo isso, meu peito apertava por sentir o mesmo. As histórias por trás das grandes marcas e suas roupas fazem todo o diferencial quando vamos usa-las. E realmente quando ela termina sua fala sobre o porquê daquela suíte especialmente para roupas da Dior, eu logo entendi e soltei um pequeno sorriso de lado, com os olhos brilhando e pensando: "incrível". 


Durante a visita notei que em quase todos os cômodos, até mesmo no quarto especial para Dior, sempre havia livros sob estantes ou mesas, com uma variação de temas enorme. Então aproveitei que estávamos diante de uma mesa com livros sobre Christian Dior e perguntei quais eram seus livros favoritos. 
"Meus livros favoritos teriam que ser relacionada à moda, eu compraria ou gastaria horas em uma biblioteca lendo as memórias de Diana Vreeland e Gabrielle Chanel. Eu li muitos romances crescendo demais, principalmente ficção. Eu gostei de ler a trilogia Jogos Vorazes, 50 Tons de Cinza e Divergente. Eu também comprei recentemente o livro de Michelle Obama, intitulado "Tornando-se", que ela lançou este ano. Eu tenho guardado isso, pois planejo lê-lo mais tarde, quando eu não estiver tão ocupado com o trabalho.
Eu também sou uma ávida leitora de revistas de moda/estilo de vida, colecionei tantos nos últimos dois anos que pude criar uma pequena biblioteca para todos eles. Meu trabalho de sonho seria trabalhar em uma revista como VOGUE, i-D ou GQ, sempre quis ser editora ou estilista! Talvez algum dia eu possa criar meu próprio conteúdo ou publicar minha própria revista."
"Meu objetivo este ano é realmente ler mais livros do que revistas."

E se este objetivo for realizado, acredito que sua casa se transformará em uma imensa biblioteca, recheada de cultura e principalmente de moda.
Caminhando pelos corredores que dividiam os cômodos, vi um quarto de mármore branco, do chão ao teto, causando um brilho imenso nos olhos de quem passava no corredor. Perguntei o que havia lá dentro pois era tão brilhante que eu não conseguia enxergar. Stevenson disse que era sua sala de prêmios e antes mesmo de terminar a frase eu entrei sem sua permissão.   

Nunca havia visto tanto troféu numa sala, eram muitos, espalhados para todos os lados, ali no chão mesmo. E com os olhos brilhando dourado, eu perguntei como era representar várias meninas negras nesse ambiente e se, de alguma maneira, ela se sentia sozinha.

"Eu tenho um total de 50 troféus National Covergirl nesse momento e parece loucura ter ganhado tantos. Eu sou um membro do Stardoll há quase 12 anos e tenho muitas mudanças nessa comunidade, sendo uma delas a representação de membros com pele escura, outra sendo mais baseada na representação POC (pessoas de cor) e importância de mostrar mais diversidade não apenas com os negros, mas com outras raças. Eu me lembro que quando entrei pela primeira vez no Stardoll em 2007, não havia praticamente nenhuma representação de bonecas negras. Uma boa amiga minha, Mel conhecida como bluegreen86 (membro não ativo), era uma verdadeira pioneira para nós bonecos de pele negra/escura, ela tinha se destacado em competições vencedoras como a Covergirl, que era muito rara para uma boneca de pele escura ganhar algo tão grande e prestigioso quanto CG. Ela também venceu o desafio Celebrity Paulina Proscova, que realmente a amontoou como uma socialite e ícone do Stardoll. Eu acho que hoje não vemos uma quantidade consistente de bonecos de pele escura nessas capas, meu objetivo e esperança seria ver mais exposição disso e trazer mais diversidade para a frente."

Para encher meus olhos de lágrimas e me fazer deixar aquela casa querendo dar o melhor de mim, ela respondeu sobre sentir-se sozinha com a seguinte frase:

"Para responder à última parte da sua pergunta, não me sinto sozinha, sinto-me ainda mais empolgada quando vejo outras bonecas de pele escura a sobressair e a ter sucesso nos seus campos. Minha esperança seria ver uma nova geração de bonecas de pele escura assumir e ver mais discussões sobre padrões de beleza, não somos uma tendência, como Naomi Campbell ficou tão famosa, estamos aqui para ficar."

Em todos os cômodos da casa por onde passávamos era um aprendizado diferente, me surpreendia cada vez mais quando fazia uma pergunta ou tirava alguma dúvida, mas mesmo assim era quase impossível não perguntar sobre cada detalhe daquela mansão.  

 Stevenson posa em sua sala com varanda, de vestido Schiaparelli vintage,  sapatos Marni e bolsa Chanel

Como sou apaixonada por flores, reparei que tinha pelo menos uma flor em cada cômodo, com uma variação enorme, desde orquídeas e rosas até plantas ou pequenas árvores. Perguntei entre tantas plantas e flores qual era a sua preferida. 

"Isso é difícil de responder, já que eu amo tantas, mas, para diminuir, seria rosas brancas, lilas e frangipani (jasmim)! Mas eu cresci em torno de flores como todas as casas em que vivi foram decoradas com estas flores. Eu uso para cultivar rosas brancas no meu quintal, minha mãe ama o lillie (lírio) e então compro elas em grupos e amo tudo que é perfumado ou saboroso, frangipani como também é encontrado no meu país natal no Pacífico. Eu sempre faço a minha missão de decorar a minha suíte de bonecas com flores, uma vez que adiciona um belo toque final." 

E ela estava extremamente certa! Eu não possuía jasmim (frangipani) em minha casa e até então não sabia o que estava perdendo. Toda a casa de Stevenson era perfumada, cada canto com um toque sutil da flor que estava por lá, mas nada vencia o cheiro incomparável do jasmim.

Já era hora de me despedir, eu não quis ir embora daquela enorme e fantástica casa. A anfitriã me levou até os portões de sua mansão, e ali, nas grades em preto com detalhes em dourado que cercavam seu lar, estava encostada uma bicicleta Hermés que possuia um charme sútil e descontraído. Aquela bicicleta descrevia sua dona por completo, Stevenson é única, surpreendente, elegante e para sempre uma referência para mim.


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